A capacidade de fotossíntese das
plantas tem servido de inspiração para cientistas de diferentes áreas
tentarem produzir em laboratório materiais artificiais com propriedades
semelhantes.
Um grupo de pesquisadores do Instituto
de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo,
desenvolve materiais com estrutura em escala nanométrica (bilionésima parte do
metro) capazes de realizar fotossíntese artificialmente para a produção de
energia.
“Com base no conhecimento existente do
sistema natural de fotossíntese realizado pelas plantas, estamos tentando
reproduzir os pontos essenciais para a função fotossintética em materiais
artificiais, para energia elétrica ou até mesmo combustível a partir da energia
solar”, disse Jackson Dirceu Megiatto Júnior, professor do IQ da Unicamp, à Agência
FAPESP.
Alguns desses avanços foram o
desenvolvimento de materiais catalisadores (que aceleram uma reação) que, ao
serem ativados pela energia solar, quebram as moléculas de água em
hidrogênio e oxigênio.
Essa etapa do processo de fotossíntese
é considerada a mais complexa, uma vez que os átomos de hidrogênio e oxigênio
estão bastante “grudados” nas moléculas de água. Por essa razão, era difícil
encontrar um material capaz de separá-los seletivamente, sem se degradar.
Mas recentemente foram desenvolvidos
novos materiais, como painéis solares de silício, com a capacidade de realizar
esse processo denominado de “separação da água induzida pela luz solar”. Com
isso, de acordo com Megiatto, abriu-se a perspectiva de conectar esses
materiais fotoativos a células a combustível convencionais – células
eletroquímicas que convertem energia química em elétrica ao combinar os gases
hidrogênio e oxigênio para formar moléculas de água novamente.
“O desafio agora é conectar esses
materiais a uma célula a combustível. Se formos capazes de usar o hidrogênio e
o oxigênio produzidos por esses novos materiais em uma célula a combustível,
será possível gerar água novamente e eletricidade e fechar o ciclo de
realização de fotossíntese artificial”, avaliou.
De acordo com Megiatto, algumas das
limitações para utilizar painéis solares de silício para separar hidrogênio e
oxigênio das moléculas de água por meio da energia solar é que são materiais
caros e difíceis de serem processados para que tenham a pureza necessária a
essa finalidade.
A fim de encontrar uma alternativa, os
pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp buscam na própria natureza
materiais capazes de absorver a luz solar e gerar energia (fotovoltaicos), que
também funcionem como catalisadores.
O material mais promissor encontrado
foi a clorofila – o pigmento fotossintético que, além de conferir a cor verde,
é utilizado pelas plantas para realizar fotossíntese.
“Essas moléculas são a saída da
natureza para conseguir absorver energia solar. O processo de sintetização
química delas, no entanto, é difícil e caro”, disse Megiatto.
Para transpor essas barreiras, o
pesquisador começou a sintetizar durante seu pós-doutorado, realizado nos
Estados Unidos, moléculas de uma clorofila artificial, chamadas de porfirinas.
Além de mais simples de serem
sintetizadas do que a clorofila natural, as moléculas artificiais do pigmento
também são mais fáceis de serem manipuladas quimicamente, disse Megiatto
Uma vantagem da clorofila artificial,
de acordo com Megiatto, é a maior estabilidade química das porfirinas. As
moléculas de clorofila natural, quando estão dentro do meio protéico da
fotossíntese natural, são estáveis. Ao extraí-las do meio protéico, no entanto,
apresentam reações físico-químicas e são degradadas rapidamente.
Já a porfirina tem uma tendência menor
a apresentar esse tipo de comportamento, comparou o pesquisador.
Segundo Megiatto, as plantas
desperdiçam grande quantidade de energia solar durante o processo
fotossintético natural. Como depende de energia para uma série de necessidades,
como para seu desenvolvimento e manutenção da vida, a cana-de-açúcar, por
exemplo, só utiliza uma pequena parte da energia solar para fixar gás carbônico
em açúcares, apontou.
“A eficiência máxima da fotossíntese
natural é, aproximadamente, 10%”, afirmou Megiatto. “Plantas terrestres têm
eficiência fotossintética menor do que 1%, enquanto algumas algas são capazes
de realizar fotossíntese com uma eficiência que varia entre 4% e 5%.”
Cientistas estão
tentando melhorar a eficiência da
fotossíntese em plantas de arroz, através de mudanças em rotas bioquímicas e na
anatomia das folhas da planta, a fim de obter uma eficiência fotossintética, de
uso de água e de nitrogênio 50 % maior do que uma variedade não modificada
geneticamente.
Fonte: http://agencia.fapesp.br/18685
Fonte: http://agencia.fapesp.br/18685