"Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre".(Paulo Freire)

sábado, 29 de novembro de 2014

Vaca transgênica com cromossomos humanos produz anticorpos contra hantavírus



Os seres humanos têm utilizados de terapias de anticorpos para o tratamento de doenças infecciosas por mais de 100 anos. O plasma sanguíneo de sobreviventes da gripe administradas à pacientes doentes em 1912, pode ter contribuído para a sua recuperação. Nos anos seguintes, as proteínas do sistema imunológico de sobreviventes foram administradas a indivíduos em uma tentativa de combater doenças como a febre de Lassa, SARS, e até mesmo Ebola.

É difícil, porém, encontrar sobreviventes que podem doar plasma contendo essas proteínas imunológicas que salvam vidas. Agora uma equipe liderada por pesquisadores do Instituto US Army Medical ResearchoinfectousDiseases (USAMIID), em Frederick, Maryland, tem usado geneticamente vacas para produzir grandes quantidades de anticorpos humanos contra hantavírus, uma doença frequentemente mortal transmitida às pessoas, principalmente por roedores.

Em modelos animais, pelo menos, estes anticorpos fornecem robusta proteção contra o vírus, abrindo a porta de terapias e prevenção do hantavírus, para o qual não existe cura. A técnica de bioprodução também é uma promessa para o produção de anticorpos contra outros agentes infeciosos.

Os pesquisadores do USAMRIID, liderado pelo virologista Jay Hooper, uniram-se com SAB Biotherapeutics em Sioux Falls, Dakota do Sul, para usar vacas geneticamente modificadas que, quando apresentados a um antígeno, poderiam produzir anticorpos policlonais totalmente humanos contra vários tipos de hantavírus. Por exemplo, hantavírus da estirpe Andes, que é predominante no Chile infecta uma média de 55 pessoas por ano e mata cerca de um terço delas. Depois de um longo período de incubação e alguns dias de febre e dores musculares, o vírus ataca os pulmões e muitas vezes provoca insuficiência respiratória aguda, levando à morte. Não existe cura, e as vacinas experimentais seria logisticamente difícil de utilizar, mesmo que elas passassem nos ensaios clínicos.

Criação de anticorpos humanos em um modelo animal não é coisa fácil. Cientistas combinaram partes do cromossomo humano 14 e cromossomo humano 2 - com genes que são necessários para a produção de anticorpos - em um cromossomo artificial e implantaram em vacas. Os genes responsáveis pela produção de anticorpos da vaca foram desativados. Como resultado, os bovinos passaram a produzir célula imunes que produziam anticorpos humanos.


Partículas de hantavírus na membra celular observada através de um microscópio eletrõnico

Os cientistas, então, administraram vacinas de DNA hantavírus experimentais, contra duas estirpes de vírus, em vacas transgênicas. Dentro de um mês, os animais produziram litros de anticorpos humanos de alta concentração contra ambas as estirpes. Os cientista extraíram, então,  as proteínas do sistema imunológico e as usou para tratar hamsters que tinham sido infectados com hantavírus letais. O tratamento aumentou muito as chances de sobrevivência dos hamsters, poupando sete de oito infectados com a cepa hantavírus chileno, enquanto todos os oitos controles morreram. Cinco dos oitos hamsters infectados com a cepa SinNombre sobreviveram.

Os modelos animais nem sempre funcionam em seres humanos, mas, a equipe de pesquisa é otimista. Anticorpos não-humanos a partir de, por exemplo, aves e primatas foram administrados com segurança em pessoas, no passado.  Os anticorpos do tipo humanos são esperados para provar  a segurança na faze 1 de ensaios clínicos diz o fisiologista reprodutivo Eddie Sullivan da SAB Biotherapeutics, que liderou o projeto para desenvolver as vacas transgênicas. Ele também não suspeita que os anticorpos deixaria de funcionar em seres humanos. De qualquer forma, eles podem trabalhar melhor, porque vão ser capazes de se comunicar com as células imunológicas humanas com mais facilidade, diz ele. "Esperamos que os anticorpos, provavelmente, serão muito bem tolerados pelos humanos e vão responder da mesma forma", diz Sullivan. 

É claro que nada é certo. Em casos muito raros, algumas terapias de anticorpos anteriores têm realmente ajudado os vírus a se reproduzirem em células, servindo como uma ponte para as células hospedeiras. "A fim de realmente terminar estes conceitos, estudos clínicos em humanos mostram a necessidade de serem realizados com segurança", diz HOOPER. "Se este material acaba por ser tão fácil de produzir o que parece, e é seguro, eu acho que é uma ótima maneira para seguir em frente."

Os cientistas também estão investigando a maneira de eliminar o intermediário bovino e simplesmente dar suas vacinas diretamente às pessoas. Mas, terapias de anticorpos são realmente mais práticas em alguns aspectos. Em doenças como a hantavirose, onde poucas pessoas são infectadas a cada ano, um programa de vacinação em larga escala pode não ter sentido, especialmente do ponto de vista econômico, diz Hooper. Tendo algumas doses de anticorpos na mão para tratar as poucas pessoas infectadas poderia resolver o problema sem a necessidade de vacinar enormes faixas da população. Além disso, observa Sullivan, uma única vaca pode produzir anticorpos contra várias cepas de vírus em grande quantidade, até 1000 doses humanas por mês.

O enorme desafio para qualquer tratamento potencial para hantavírus é encontrar uma maneira de diagnosticar a doença, à tempo. É difícil reconhecer a infecção antes de que ela se mova para os pulmões, o que muitas vezes, é tarde demais. Ter uma forma disponível de anticorpos de hantavírus na mão poderia permitir que os profissionais de saúde administrassem o tratamento para pessoas que entram em contato com a doença, diz Mertz.

Mais uma vez, os benefícios potenciais ainda depende de estudos clínicos que mostrem segurança e eficácia; a equipe está otimista. Eles poderiam começar já no próximo ano com hantavírus, e talves ainda mais cedo para outras doenças. "Nós estamos trabalhando com Ebola e também MERS-Cov (vírus causador da Síndrome Respiratória)," diz Sullivan.

Fonte: http://news.sciencemag.org


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A sonda Philae pousou no cometa

Philae pousou no cometa 67PChuryumov-Gerasimenko na tarde de ontem depois de 10 anos viajando pelo espaço.

No dia seguinte ao pouso começou a divulgação das primeiras imagens feitas pelo módulo Philae diretamente da superfície do cometa a 510 milhões de quilômetros da Terra, na região do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter.


 Essa imagem acima representa duas fotos tiradas pelo instrumento CIVA, responsável por registrar os arredores da sonda. Outras imagens revelam que o Philae pousou ao lado da parede de um penhasco. Parece que ele não está paralelo com o chão e uma das pernas do trem de pouso está suspensa no “ar”.

O módulo não teve uma aterrizagem tranqüila, ele quicou duas vezes na superfície do cometa e, segundo dados do instrumento ROMAP, que avalia o campo magnético, o primeiro toque aconteceu com uma velocidade de 1 m/s. Ele pulou de volta para cima a 38cm/s e flutuou por cerca de 1 km, até voltar a tocar no solo. Sofreu novo impulso com velocidade de 3 cm/s, e voltou a pousar, desta vez para ficar. O primeiro salto levou quase duas horas e o segundo seis minutos. A pequena gravidade do cometa fez com que esses saltos não causassem prejuízo à sonda.

Imagem da Rosetta mostrando o pequeno Philae descendo rumo ao planeta

Um dos objetivos da equipe da ESA  era flagrar o Philae intacto na superfície, através da câmera OSIRIS, instalada a bordo da espaçonave Rossetta, mas no momento não estavam conseguindo. Os cientistas estavam preocupados com a duração da bateria e com a obtenção de luminosidade solar suficiente nas células solares. A preocupação era justificável pois, com base na telemetria o Philae estava recebendo apenas 1h30min de exposição solar por rotação o que era muito pouco se comparando à expectativa inicial, que era de 6h a 7h.

Imagem do primeiro local de pouso, fotografado pelo Philae a 40 metros de altura
Por enquanto, os instrumentos que exigem esforço mecânico e, portanto mais energia, não foram ativados. Sem perfurações no solo, por enquanto.

O tão propalado “som” do cometa são oscilações magnéticas provavelmente causadas pela interação de partículas do cometa com raios de alta energia vindos do espaço. Na verdade esse “som” não se trata de ondas sonoras, mas magnetismo convertido em áudio com freqüência que o ouvido humano pode perceber. Lembramos que o som não se propaga no vácuo.Ouça aqui.

Philae descendo em direção ao cometa, imagem gerada de Rosetta

Cometas, assim como os asteroides, são restos que sobraram da formação dos planetas e luas. Esses pequenos corpos orbitam o Sol, juntamente com todos os outros corpos do sistema solar. Os cometas estão localizados no Cinturão de Kuiper e na Nuvem de Oort, as regiões ultraperiféricas do nosso sistema. A maioria dos asteroides está localizada em um cinturão entre Marte e Júpiter. Ocasionalmente perturbações gravitacionais causam nos cometas e nos asteroides perturbações que mudam seu caminho orbital, às vezes levando-os perto de um planeta. Um objeto próximo à Terra (NEO) é um que está à 50 milhões de quilômetros do planeta.

O Philae, conjuntamente com Rosetta, deverá ampliar o conhecimento sobre cometas. Seus resultados poderão nos dar pistas para entendermos a formação do nosso Sistema Solar, como o surgimento de planetas com água e quem sabe até a origem da vida. Esta espetacular e emocionante aventura esta apenas começando.....

Fonte: www.esa.int

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Espaçonave Rosetta, da ESA, está chegando a seu destino

A espaçonave Rosetta lançada pela Agência Espacial Européia, ESA, em 2004, se aproxima do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, quando no dia 12 de novembro lançará a sonda Philae que deve pousar, suavemente,  no cometa.

Rosetta e Philae

Pouso suave é diferente de missões de impacto, como a Deep Impact que espatifou no núcleo do cometa 9P/Tempell.

Agora, além da manobra de inserção orbital, outras manobras precisam ser efetuadas de modo a propiciar um pouso controlado. Para efetuar a entrada em um planeta com atmosfera, como Marte, a velocidade e o ângulo de entrada devem ser muito específicos, com pouca margem de erro. Com a velocidade incorreta e com ângulo errado, uma nave pode entrar muito inclinada e não conseguir frear para o pouso, ou se entrar rápido demais, simplesmente ela poderá ricochetear na alta atmosfera e ser lançada ao espaço. 

O núcleo do cometa e o local onde a sonda deverá pousar.

Para se ter uma ideia, pouso suaves só foram efetuados em 6 corpos do Sistema Solar: 2 planetas (Vênus e Marte), 2 luas (nossa Lua e Titã no sistema de Saturno) e 2 asteroides (433 Eros e Itokawa). Não foi à toa que nas manobras finais de pouso do Jipe Curiosity em Marte foram chamadas de "7 minutos de terror".

O pouso em um cometa é muito complicado. O cometa viaja a uma velocidade muito grande, tem movimento de rotação, expele jatos de gás e tem uma superfície cheia de rochas,rachaduras, escarpas e possivelmente alguns metros de poeira fina acumulada.

Para pousar em Marte ou na Lua, por exemplo, missões anteriores esquadrinharam a superfície durante anos ou décadas para achar um local seguro de pouso e a sonda Rosetta está há apenas um mês fazendo isso.

Ao chegar a uma distância de 22 km do núcleo, a Rosetta deve liberar o módulo de pouso Philae que vai executar a aproximação final de maneira autônoma, ou seja, sem intervenção do controle da missão. O cometa está tão longe da Terra que tal informação enviada pela sonda demora quase meia hora para chegar ao controle na Terra, fica impossível, portanto, fazer qualquer coisa "ao vivo".

As manobras para o pouso devem durar 7 horas, que podem terminar abruptamente por causa de eventos inesperados, como um jato de gás ou mesmo a explosão de um bolsão de gelo do núcleo do cometa.

Se tudo correr bem, a Philae vai pousar na superfície com uma velocidade equivalente ao caminhar de uma pessoa e imediatamente 3 arpões vão fixar a sonda de 100 kg na superfície.

Câmeras de alta resolução devem fornecer panorâmicas fantásticas do ponto de pouso e 10 outros equipamentos de pesquisa devem fornecer dados sobre a estrutura interna do cometa.

A sequência de eventos prevista será a seguinte (horário de verão): 

11/11 - 17:00h. Início da transmissão(de 24h) pela internet no endereço: http://new.livestream.com/ESA/cometlanding

11/11 - 17:35h. Hora de decidir nº1: vai ou não vai? Se a missão receber luz verde, a sequência de pouso será transmitida para a Philae,

11/11 - 22:00h.Hora de decidir nº 2: vai ou não vai? Se a missão receber luz verde, a Philae será colocada de prontidão para a separação.

11/11 - 23:35h. Hora de decidir nº 3: vai ou não vai? Se houver luz verde, a Rosetta inicia as manobras de entrega da Philae.

12/11 - 5:03h. Alinhamento da Rosetta com o núcleo do cometa para a separação da Philae.

12/11 - 5:35h. Hora de decidir nº 4: vai ou não vai? Se houver luz verde os procedimentos para o pouso serão iniciados.

12/11 - 7:03h. Separação da Philae a 22,5 km do núcleo. Começa a fase de descida e pouso.

12/11 - 7:43h. A Rosetta executa uma manobra de afastamento.

12/11 - 8:00h. O controle da missão recebe a imagem de "despedida da Philae após se soltar de Rosetta.

12/11 - 9:03h. A sonda Rosetta aponta para a Philae para poder receber seus dados.

12/11 - 14:03h. Pouso da Philae.

12/11 - 15:00h. Divulgação das primeiras imagens.

12/11 - 15:03h. Início das primeiras operações de ciências.

15/11 - 7:03h. Término das primeiras operações de ciências.

É claro que esses horários podem sofrer alguma alteração de última hora.

Esperamos que tudo ocorra como previsto pelos cientista da ESA. Estamos torcendo!!

Veja o vídeo:



O vídeo abaixo, apesar de falado em inglês, nos dá, mesmo assim, uma ideia de como será a missão Rosetta/Philae.



Fontes: www.esa.int
           www.g1.globo.com/ciencia